Os jovens eleitores não sentiram e nem viram o outro governo.
Eles estão com uma ‘faca de dois gumes’ na mão, o passado
de Mário influenciará no seu governo atual?
Por Débora Oliveira, Elizabete Araujo e Kamilla Carvalho
Mário de Melo
Kertész, político, administrador e radialista, tenta pela terceira vez a posse
do palácio Tomé de Souza. O candidato administrou Salvador entre 1979 e 1981,
sendo indicado por Antonio Carlos Magalhães. Já seu segundo mandato ocorreu por
meio do voto popular, sendo o primeiro prefeito de Salvador escolhido após a
Ditadura Militar.
Nesta entrevista,
Mário Kertész conta porque voltou a concorrer à prefeitura de Salvador após 23
anos afastado da política, como sua experiência administrativa pode lhe
favorecer, esclarece questões sobre sua relação com ACM e outros. Kertész se
considera o candidato mais capacitado ao cargo, preparado para enfrentar e
vencer os problemas de Salvador.
O que levou o senhor a seguir a carreira política?
O amor e a vontade
de trabalhar pela cidade. Por isso, comecei minha vida pública muito cedo. Aos
22 anos, fui convidado pelo professor Luís Sande para ser diretor da Secretaria
de Indústria e Comércio de Salvador. Depois, fui subsecretário da Secretaria
Municipal da Fazenda, na gestão de Antonio Carlos Magalhães, em 1967,
presidente da Fundação de Planejamento (CPE) e secretário de Planejamento, de
1971 a 1975. Quatro anos mais tarde, ACM me indicou para ser prefeito, onde
fiquei até 1981. Em
1986, retornei ao
cargo, eleito com 67% pela população soteropolitana na primeira eleição direta
municipal. Tive um mandato de três anos. Em 1988, consegui eleger meu sucessor
e, em 1992, encerrei minha carreira política.
Quais motivos, depois de 23 anos fora de disputas eleitorais, o
fizeram voltar à vida política?
O entendimento de
que a cidade está, neste momento, abandonada, desassistida de tudo - saúde,
educação, segurança, mobilidade urbana - com a autoestima lá em baixo e que
tenho um bom projeto para governá-la. Salvador precisa de um prefeito que seja
administrador, cumpra o seu mandato de quatro anos, sem pretensões de esticá-lo
por mais quatro, e consiga, ao lado de uma boa equipe, dar à nossa cidade a
infraestrutura que ela precisa para estar entre as melhores capitais do país.
Em razão desse projeto, que nenhum outro candidato pode oferecer, resolvi me
candidatar. Estou disposto a dar toda a minha energia para cuidar de Salvador.
O senhor é formado em Administração de Empresas pela
Universidade Federal da Bahia. Também lecionou como professor. Como sua
formação ajuda na vida política?
É muito importante.
Os conhecimentos adquiridos na faculdade de Administração ajudaram bastante a
compreender a gestão municipal. Administrar uma cidade é uma tarefa muito complexa.
Quanto mais capacitada a pessoa estiver, mais fácil conseguirá atender às
demandas dos cidadãos.
No cenário atual, o grande desgaste de Jacques Wagner e de
Nelson Pelegrino devido às greves realmente favorece a sua candidatura?
O que favorece a
minha candidatura é o fato de eu ser o único candidato na disputa que não tem
pretensões políticas, que não quer usar a Prefeitura como trampolim para 2014
ou fatiá-la entre dezenas de partidos aliados. Eu só quero governar Salvador
por quatro anos e buscar soluções para os problemas sem medo de cara feia e com
uma equipe técnica qualificada. O desgaste do governador é natural e reflexo de
alguns equívocos de sua gestão. Faz parte do jogo político. Wagner é meu amigo,
uma pessoa com quem tenho uma boa relação. Caso seja eleito, sempre que for
preciso, não terei problema nenhum em sentar para conversar e cobrar mais ações
para a cidade.
“Me afirmo como único candidato que pode trazer o melhor do carlismo [...] e o melhor do petismo [..].”
Quais as suas propostas para a educação? E como se contrapõem ao
descaso em que se encontra a educação soteropolitana?
|
Sabemos que Salvador vive também do turismo, no entanto,
presenciamos, nos últimos anos, o descaso dos governantes com centros
turísticos importantes para a economia soteropolitana. Prova disso, é o
abandono em que se encontra o Pelourinho. Quais os seus projetos, caso seja
eleito, para a área de turismo em Salvador?
O turismo será um
dos pilares do meu governo. Salvador é uma cidade de vocação turística, que
precisa ser aproveitada e potencializada. Por isso, criarei a Secretaria de
Turismo, onde trabalharei dia e noite, junto com a minha equipe, para
revitalizar o Centro Histórico e todos os pontos turísticos da cidade. Já
enfrentei uma realidade de abandono parecida com essa quando fui prefeito e
consegui, com ações enérgicas e planejamento, modificá-la. Com o mesmo afinco,
enfrentaremos esses e outros problemas e venceremos novamente.
Na sua campanha política, o senhor dá ênfase à cultura baiana e
como valorizá-la. Com relação à Copa de
2014, como o seu governo pretende preparar Salvador?
Vou melhorar a
cidade e prepará-la para receber dignamente os turistas e os moradores. É o que
dá para fazer no curto tempo que resta até os jogos. O futuro prefeito terá
apenas 18 meses para por ordem na casa e deixar Salvador arrumada para a Copa
do Mundo de 2014. Seria muito fácil chegar aqui e prometer coisas mirabolantes,
como alguns vêm fazendo, para depois não cumpri-las. Mas temos que ser
realistas, enfrentar e vencer com muito trabalho a nossa realidade atual.
No debate promovido pela TV Bandeirantes, o senhor disse: “As
coisas ficam muito parecidas. No final, eu acho que o que vai valer é a
capacidade e a experiência". Isso revela que o senhor tem vantagens sobre
seus candidatos, por ter administrado Salvador duas vezes?
Sem dúvida nenhuma.
Dentre os nomes que disputam esta eleição, sou o único que já foi prefeito e
atuou durante muitos anos no Poder Executivo. Uma cidade tão cheia de problemas
como Salvador precisa de um gestor competente, experiente e que saiba montar
uma boa equipe. E tudo isso eu já fiz e, se for a vontade da população, farei
novamente.
Durante seus dois mandatos como prefeito o que o senhor fez de
mais importante para a capital baiana?
Fiz várias obras
importantes, em especial as relacionadas à mobilidade urbana. No meu segundo
mandato, deixei Salvador preparada para receber um sistema de transporte com
diversos modais, ônibus articulados e Veículos Leves Sobre Trilhos, o que, com
certeza, amenizaria os transtornos atuais do trânsito. E isso foi há 24 anos.
Infelizmente, por questões políticas, os gestores que me sucederam não deram
prosseguimento ao projeto e deixaram a cidade à mercê da falta de planejamento.
Uma das suas frases marcantes foi no programa Brasil Urgente,
quando perguntado sobre uma aproximação com João Henrique disparou: "Vade
retro, Satanás". Em que aspectos suas propostas se diferem do atual
Prefeito de Salvador?
Em tudo. Ao
contrário dos outros candidatos, que tiveram participação importante nos oitos
anos do governo atual e hoje são apoiados ou pelo partido dele ou pelo próprio
prefeito, posso dizer tranquilamente que ele é uma pessoa sem a menor
qualificação para exercer o cargo que ocupa. Sempre fiz oposição ao prefeito, e
a rádio foi até multada por causa disso. Caso seja eleito, serei um prefeito
visível, que não desaparece da cidade em momentos importantes, ativo e com uma
equipe de técnicos qualificada para me auxiliar, assim como fiz nos meus dois
mandatos anteriores.
As pesquisas apontam ACM Neto como primeiro lugar invicto, tendo
uma diferença mínima entre o senhor e Nelson Pelegrino. Com tal campanha, o
senhor acha que concorrerá com o candidato democrata no segundo turno?
Não tenho dúvida de
que estarei no segundo turno. Só falta saber com que adversário. A pesquisa é
um retrato da vontade momentânea de uma parte da população. Não define eleição.
Se fosse assim, Paulo Souto teria vencido a eleição para o governo em 2006 e o
próprio ACM Neto seria o atual prefeito de Salvador. Por isso, é bom sempre
analisar com cuidado os resultados apresentados e continuar a trabalhar na
campanha.
A revista Época trouxe a seguinte notícia: o deputado ACM Neto
(DEM), de 33 anos, fez piada com a idade de
seu adversário do PMDB, o radialista Mário Kertész, de 67 anos: “Você precisa
arranjar uma bengala para ele”. A sua idade interfere na sua candidatura?
Traz o benefício da
maturidade e da experiência. Sinto-me totalmente preparado para enfrentar e
vencer os problemas de Salvador. A afirmação do deputado, além de
preconceituosa, revela a sua falta de maturidade política para encarar os seus
adversários. É bom ele não se esquecer da história e de que o seu avô, com
muito mais idade do que eu, governou com muita competência a Bahia.
O site Paulo Afonso Notícia declara o seguinte: “(Mário Kertész)
tenta utilizar as ondas da rádio Metrópole FM com objetivo de construir uma
imagem de homem capaz, competente, dinâmico.” Ser diretor e radialista de uma
emissora de rádio traz vantagens sobre os outros candidatos?
Não enxergo as
coisas dessa maneira. Na verdade, não levo vantagem alguma. Dos principais
candidatos, fui o último a entrar na disputa e o único que não é político. Como
disse, sou administrador. A matéria desse site está equivocada. Sempre
trabalhei com seriedade e competência em tudo que fiz. Foi assim durante toda a
minha vida. As pessoas sabem e reconhecem isso. Não preciso criar imagem em
rádio para me estabelecer. Quem me conhece ou já trabalhou comigo sabe do que
estou falando.
O que levou o senhor a romper com o Carlismo? E suas ações no
passado, ligadas a esse movimento, podem de certa forma ‘respingar’ na sua
candidatura?
Não acho que isso
vá prejudicar minha candidatura. Nunca neguei a influência de ACM na minha
formação política. O considero um dos maiores políticos que já convivi. Todos
os baianos sabem da sua capacidade administrativa e dedicação a nossa terra,
coisa que Salvador necessita agora. Mas, ACM era uma pessoa centralizadora e de
temperamento difícil. Por isso, me distanciei. Concluindo, me afirmo como único
candidato que pode trazer o melhor do carlismo, que é o amor por Salvador, e o
melhor do petismo, a capacidade de agregar pessoas em torno de ideias.