Resenha Crítica sobre o artigo: Células tronco : o que são e o que serão?
O artigo “Células-tronco: o que são e o que serão?” foi produzida por Regina Célia Mingroni-Netto e Eliana Maria Beluzzo Dessen, sendo divulgado na Revista Genética na Escola, uma revista semestral publicada pela Sociedade Brasileira de Genética . O artigo foi publicado em 2006 no vol I da Revista em questão1.
Ambas autoras são brasileiras, sendo que a Eliana Maria Beluzzo Dessen possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (1970), mestrado em Ciências Biológicas (Biologia Genética) pela Universidade de São Paulo (1973) e doutorado em Ciências Biológicas (Biologia Genética) pela Universidade de São Paulo (1978) e pós doutorado em Biologia Molecular no Zentrum Für Molekulare Biologie Heidelberg, Alemanha. Tem experiência na área de Genética, com ênfase em Citogenética, e em Biologia Molecular. Já Regina Célia Mingroni-Netto possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (1984), mestrado em Ciências Biológicas (Biologia Genética) pela Universidade de São Paulo (1988) e doutorado em Ciências Biológicas (Biologia Genética) pela Universidade de São Paulo (1994). Tem experiência na área de Genética Humana e Médica, com ênfase em genética molecular humana, tendo atuado principalmente nos seguintes temas: síndrome do cromossomo X frágil, surdez hereditária e variabilidade molecular em populações brasileiras.2
O artigo em questão trata sobre as células-tronco desde o seu significado , tratando das terapias celulares utilizadas atualmente, até a grande questão ética-religiosa das células-tronco embrionárias. Este texto é dividido em 5 tópicos principais: A diferenciação celular; Células indiferenciadas: as células-tronco; Terapia celular e as células-tronco; A polêmica sobre o uso de células-tronco embrionárias em terapia celular; O que há de novo sobre terapia com células-tronco? . Inicialmente ao abordar a diferenciação celular, as autoras mostram o processo de formação do embrião humano, como destaque, o zigoto. A diferença suprema do zigoto para um embrião desenvolvido é a diferenciação celular. Este processo consiste em uma diferente leitura dos genes que varia de acordo o tipo celular. Os fatores de produção ou proteínas ativadoras de genes fazem a ativação gênica, que reconhecem sequências específicas de DNA e favorecem a aproximação das proteínas específicas para a transcrição de fato. Pode-se afirmar que toda célula do corpo humano podem ser caracterizadas em dois pontos: grau de diferenciação e potencialidade.
O Dr. Dráuzio Varella mencionou um trecho no seu artigo sobre Clonagem Humana que permite aplicar esses dois conceitos.
Com este texto percebe-se o grau de diferenciação, que é o quanto uma célula é especializada em determinada função, como por exemplo, células musculares e celulares. Também pode-se detectar o grau de potencialidade, ou seja, a capacidade de originar novas células, como por exemplo, as células tronco. Em síntese, a diferenciação celular é o grau de especializações, potencialidade e capacidade de originar outros tipos celulares.
Portanto, a partir do segundo tópico “Células indiferenciadas: as células-tronco” as autoras tratam a relação da diferenciação celular a partir da potencialidade da célula. Por exemplo, células que ainda não estão diferenciadas, podem ser classificadas como totipotentes, pois podem originar todos os tipos de células, como por exemplo, as células do blastocisto. Já células que conseguem ser diferenciadas na maioria dos tecidos, menos em anexos embrionários são denominadas de pluripotentes. Células multipotentes têm potencialidade para originar alguns tipos celulares. Um exemplo de células multipotentes é o das células da medula óssea, que dão origem a diversos tipos de células sanguíneas, como também, as células estromais, que produzem os percussores da gordura e dos ossos, e as recém-descobertas, mesenquimais.
No terceiro tópico, “Terapia celular e as células-tronco” o texto difere da ideia de utilização de células-tronco com uma aura futurística. Dessa forma, o artigo desmistifica essa ideia, quando refere-se ao transplante de medula óssea. Desde 1968, esses transplantes recuperam a capacidade dos pacientes de produzir células sanguíneas e imunológicas saudáveis. 3 Porém uma dos problemas desse tipo de terapia celular é a rejeição ou histocompatibilidade. Todas as espécies possuem um conjunto de genes denominado MHC, cujos produtos são de importância para o reconhecimento intercelular e a discriminação do que é próprio e não-próprio. Nos seres humanos essas proteínas são chamadas de HLA (antígeno leucocitário humano). Assim, quanto maior o grau de parentesco, mais alelos do MHC eles terão em comum. Com base nas leis de genética, as chances de um indivíduo encontrar um doador ideal entre irmãos (mesmo pai e mesma mãe) é de 35%. Quando não há um 'doador aparentado' (irmão ou outro parente próximo, geralmente um dos pais), a solução é procurar um doador compatível entre os grupos étnicos (brancos, negros, amarelos) semelhantes. Embora, no caso do Brasil, a mistura de raças dificulte a localização de doadores, é possível encontrá-los em outros países. Desta forma, surgiram os primeiros Cadastros de Doadores de Medula em que, voluntários de todo o mundo, são registrados e consultados para pacientes de todo o planeta. Hoje existem mais de 5 milhões de doadores no mundo.4
Porém o transplante de medula óssea a partir de doadores adultos não é a única forma de obtenção de células-tronco adultas, ou somáticas. Pode-se obter células-tronco adultas em um cordão umbilical, uma área rica em células sanguíneas. “O uso de células-tronco do sangue de cordão umbilical em transplantes é mais vantajoso do que o de medula óssea, por vários motivos: elas se implantam mais eficientemente, são mais tolerantes à incompatibilidade entre receptor e doador, têm disponibilidade imediata e há possibilidade de realização do transplante sem que o doador seja submetido a qualquer tipo de procedimento cirúrgico.” Relata as autoras. Essa facilidade de coleta e da análise prévia de antígenos HLA estimulou a criação de Bancos de Sangue de Cordão Umbilical no Brasil.
No quarto tópico, “A polêmica sobre o uso de células-tronco embrionárias em terapia celular” as autoras tratam da grande questão ética-religiosa que é a utilização de células-tronco embrionárias. Elas apresentam três métodos diferentes de terapia celular com células-tronco: a primeira é a forma tradicional, ou seja, a utilização de células-tronco adultas; A segunda consiste na utilização de células-tronco embrionárias a partir de um embrião em fase inicial de desenvolvimento, o blastocisto; e a terceira e mais polêmica é a clonagem terapêutica, na qual o DNA retirado de uma célula adulta do doador também é introduzido num óvulo "vazio", mas, depois de algumas divisões, as células-tronco são direcionadas no laboratório para fabricar tecidos idênticos aos do doador, tecidos que nunca serão rejeitados por ele.
Assim, clonagem terapêutica é apenas um tipo de terapia celular com células-tronco. Porém ainda não obteve-se sucesso nas tentativas de clonagem terapêutica realizadas em humanos. Assim apesar das questões éticas, as autoras argumentam as vantagens de serem utilizadas as células-tronco embrionárias em favor das células-tronco de adulto. As mesmas argumentam que as células-tronco de adulto são raras e muito difíceis de serem obtidas nos tecidos onde ocorrem. A sua multiplicação em laboratório é mais vagarosa do que a das células-tronco embrionárias e, em teoria, a sua potencialidade de diferenciação é mais reduzida do que a das células embrionárias, pois já estão em estado mais adiantado de diferenciação celular. Além disso, logo após o seu estabelecimento em laboratório, elas perdem a capacidade de se dividir e se diferenciar. Portanto, ainda não se sabe se as células-tronco de adulto poderão substituir perfeitamente as células-tronco embrionárias. Porém, é necessário se conhecer o mecanismo da diferenciação celular envolvendo os dois tipos células-tronco, para saber a real potencialidade e os limites delas.
É interessante o caráter social trazido pelo artigo, quando abordam que “somente após uma discussão séria que envolva a todos os segmentos da sociedade, que deve estar ciente dos riscos e benefícios de tais atividades, podemos chegar a um consenso sobre a utilização responsável e ética dessas células.” Também apresenta o projeto da Lei de Biossegurança, no qual as células-tronco de fertilização in vitro poderão ser utilizadas para fins de pesquisa de novos tratamentos. No quinto e último tópico, “O que há de novo sobre terapia com células-tronco?”, as autoras fazem um apanhado geral das pesquisas e dos avanços relacionados nessa área. Como a pesquisa brasileira referente ao coração. O Brasil está como uma das pioneiras neste sentido, até mesmo ao EUA com a decisão de Bush que proibiu a criação de novas linhagens de células tronco embrionárias.
O artigo como um todo apresentou coerência entre a posição central e a explicação, discussão e demonstração. Pois qualquer indivíduo que possuísse conhecimento nulo a respeito de células tronco conseguiria entender algo do assunto. Porém, as questões ético-religiosas poderiam ser abordadas de forma mais profunda. Por exemplo Clive Cookson discute esta questão ao apresentar a terapia celular com células-tronco como um tratamento antigo e aceito, enquanto que a clonagem terapêutica transmite o medo de abrir portas para a clonagem reprodutiva. O mesmo também mostra que alguns cientistas na tentativa de contornar as objeções éticas á destruição de embriões humanos para fins de pesquisa vêm explorando fontes alternativas de células-tronco. Como identificar as células-tronco embrionárias adultas menos diferenciadas e fazer com que seu relógio biológico retroceda.
Além disso, o artigo apenas apresenta os pontos positivos das células-tronco embrionárias. Ao contrario das células-tronco adultas, as embrionárias não podem ser usadas diretamente em tratamentos médicos por que causam câncer. Mas as experiências com células-tronco embrionárias em camundongos indicam que será possível desenvolver tratamentos seguros e eficazes com as equivalentes humanas. Assim, se a diferenciação for controlada, o câncer pode ser evitado. A células-tronco pode escapar da polêmica ética das embrionárias, mas segundo Christine Soares, seu valor clínico na prática é muito duvidoso.
Outra barreira ética no uso das células-tronco embrionárias é o limite do ser humano e do animal. As células-tronco facilitam a produção de avançadas quimeras interspéscies, mais uma barreira ética envolvida neste ramo medicinal. A solução seria saber e controlar os genes da diferenciação celular, pois sabendo isso é possível até ativar as células-tronco do próprio corpo e evitar o maior risco envolvendo as células-tronco que é a relação íntima dessas células com o câncer. Porém este conhecimento requer décadas de estudo, e estes estudos envolvem a obtenção da matéria-prima.
A pior questão para os cientistas não é descobrir esses mecanismos, mas sim contornar a moralidade, visto que as opiniões e as leis divergem pelo mundo. Além da falta de “fé” dos investidores financeiros que possuem receio do retorno econômico dessas pesquisas. As relações entre ciência e religião mudam ao longo da história e envolvem uma gama muito grande e complexa de aspectos, como políticos, sociais, econômicos e aqueles que envolvem as relações de autoridade e poder, visões epistemológicas das épocas, forma das práticas científicas em cada época, relação ciência e sociedade, choques entre culturas distintas. Contudo, a questão das células-tronco envolvem muito mais que moral e religião, mas um jogo de poder, que quem mais perde é as próximas gerações de chagados, diabéticos e portadores de Alzheimer.
Referências
http://geneticanaescola.com.br/vol-i-artigo-05/
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/busca.do
SOARES,C. Manutenção Interna. Scientific American Brasil, Agosto 2005.
http://www.einstein.br/einstein-saude/Paginas/duvidas-sobre-saude.aspx?esp=Transplante%20de%20Medula%20%C3%93ssea